Desenhar é o que eu mais amo. Eu não posso evitar, o desenho é minha alma gêmea. Não passamos um dia separados, não importa aonde eu esteja, não importa se eu estou usando uma caneta BIC ou um pincel Winsor e Newton número 2. Nunca importou. O que importa de fato é a paixão. Nada, tirando talvez ler, me deixa tão concentrado, tão feliz. Se eu tivesse que escolher entre viver o resto da vida sem braços e viver só mais cinco anos com o braço, escolheria os cinco anos. Não posso me imaginar fazendo outra coisa que não seja desenhar, independente da quantidade colossal de outras coisas a fazer no mundo. Não troco a minha prancheta por uma festa, uma balada, ou qualquer outra coisa do tipo. Pode parecer anti-social, e talvez até seja, mas se a vida nos dá a chance de fazer o que gostamos, por que trocar por algo que os outros gostariam que nós fizéssemos? Não que o prazer de desenhar tire meu prazer por outras coisas, como conversar, rir com meus amigos de piadas que provavelmente só nós entendemos, namorar alguém, nada tira a graça dessas coisas. Mas perto do desenho, ao menos todas as outras atividades do tipo hobbie ou profissão perdem a graça. Quando estou com dificuldades para entender algo em alguma matéria na escola, como a matemática – minha inimiga número um, com suas milhares de funções inúteis, no meio de tantas outras indispensáveis, é a maldita matéria é importante – ou a incrivelmente aprisionante matéria de desenho geométrico – para que colocar tantas regras numa coisa que deveria ser instintiva e prazerosa?-, nada além do desenho consegue me tirar um pouco desse mundo e me levar para o meu mundo interno. Viver o mundo dos meus personagens, criar seus complexos, mudar o rumo de suas vidas, deixa-los viver depois. Se quiser, pode me chamar de covarde por querer fugir um pouco desse mundo, mas é impossível agüentar tanto tempo dentro de uma realidade só, quando se pode criar outra. Cada tem seu jeito de ser feliz, ué. Por exemplo, todo dia eu pego um ônibus que poderia me deixar a 5 minutos de casa, mas desço duas paradas antes, apenas para poder caminhar 20 minutos, meia hora, até em casa. Deixar o vento bater na cara, pensar. Meus amigos não entendem. Mas não fico bravo, afinal, como eu disse, cada um tem seu jeito de descobrir as felicidades. Eu por exemplo, não consigo ser tão feliz na escola quanto desenhando, já outras pessoas dedicam sua vida aquele lugar. Quem está errado? Ninguém. A felicidade aparece em um lugar para cada um. Só consigo enxergar o sistema de ensino atual como um grande atraso para quem já tem certeza do que quer fazer, mas enquanto isso, quem ainda não se decidiu – não que sejam atrasados, com tantas possibilidades, difícil escolher quando se é bom em várias coisas como esses alunos – vê como a chance de abrir várias possibilidades. É pouquíssimo provável que um desenhista tenha que usar uma inequação de segundo grau, mas um matemático precisa mais disso do que qualquer um possa imaginar, afinal, foi por isso que nosso amigo Bhaskara criou sua fórmula a um bom tempo. A escola te atrasa em alguns sentidos, como quando te ensina matérias que provavelmente só serão pedidas uma vez na sua vida: em algum vestibular. O que na verdade pode ser classificado como hipocrisia, pois se o lema escolar é te preparar para a vida adulta, por que ter a chance de repetir de ano e prejudicar a sua maturidade com um assunto inútil dentro de uma matéria útil? Obviamente, a escola não é uma perda de tempo, nunca disse isso. No meio de algumas coisas inúteis, existem enchentes de coisas mais que úteis, principalmente nas matérias principais, Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e Inglês. Adoraria que o número de matérias importantes fosse maior, mas parece que ninguém informou ao sistema escolar que Arte também é história, é português, é inglês, é geometria, é matemática, é informática, é filosofia, e essa matéria é desvalorizadíssima. Afinal, por que a toda poderosa escola deveria criar seres dessa raça maldita, os artistas, não? Devemos preparar as pessoas para serem grandes profissionais, como executivos, advogados, médicos. Desde quando o mundo precisa de artistas? Quem diabos é Leonardo Da Vinci? Quem é esse tal de Will Eisner? Deixa essa criançada relaxar na aula de artes, manda eles desenharem uma coisinha bonitinha aí, ou imprimirem da Wikipédia sem nem ler antes uma pesquisa sobre o Van Gogh. Triste, não? Mas é um fato, pelo que presenciei até hoje. Alias, aparentemente, para as escolas ( não incluo meus professores, alguns realmente tem prazer na arte) a equação é bem simples:
Artes = Desenho
Beatles? Quem? Dança? Hun? Artes é desenho, ué. Simples, né? Juro, eu fico chateado com a falta de importância dada a arte nas escolas, publicas e particulares. Porra, vamos estimular as crianças, os jovens, a se expressar de um jeito diferente! Muitos artistas foram responsáveis por mudanças no mundo. A arte de se expressar é importante. Que tal dar temas mais abrangentes para criação de desenhos do que “Pinte a flor” ou “Copie o quadro mais famoso do artista famoso só que com grafite em uma folha sulfite”. Ninguém procura mostrar os quadros mais desconhecidos, os mais expressivos, só os mais famosos. Ninguém dá uma aula sobre música, ninguém bota uma música dos Beatles para os jovens ouvirem enquanto desenham. Mas enfim. Nada adianta eu ficar reclamando aqui também, no final das contas. Na verdade creio eu que quase ninguém, tirando os leitores regulares e mais alguns vão ler esse texto até o fim. E olha que nem falei tudo que eu queria, haha. Mas tudo bem. Eu precisava falar isso para alguém. No caso é você, que está aí lendo.
Alias, obrigado pela sua atenção, caro leitor que leu isso até o fim. Não precisa comentar o post, nem divulgar o blog, e muito menos concordar comigo. Mas se discordar, comente, que eu gosto bastante de ouvir opiniões também.
Abraços do autor desses textos estranhos com mil reviravoltas sem sentido.
Pedro C.
UOU!
ResponderExcluirFaz um bom tempo que não leio um texto que me identifique tanto,me faz sentir livre e ao mesmo tempo reprimida,coisas que mais amo,como você,a arte,pode ser tão desprezada nas escolas de hoje.
Quando me perguntam o que quero fazer da vida,eu respondo desenhar! vem os olhares de insignificansia pra cima de mim.Isso é um trabalho de verdade?porque não medicina ou direito?quanto você acha que vai ganhar fazendo isso? é o que dizem...Mas é o que amo e sei fazer!
Fassa ou não sentido,continuarei seguindo esse caminho!
muito obrigada por impor tais pensamentos que nunca antes consegui expressar.
Pedrão lavando a alma! Me fez lembrar uma época distante em que, no Brasil, Escola significava Educação. Alunos respeitavam professores e professores educavam alunos (tudo no bom sentido). O professor Damião, de inglês, dava aula para nós ao som dos Beatles, pois uma vez por semana levávamos para o colégio, a seu pedido, uma vitrolinha portátil e os discos. Eu, por desenhar o tempo todo, não era considerado um ET. Professores e colegas sempre me incentivavam a continuar. Me convocavam para fazer cenários para as peças estudantis, cartazes para os quermesses, feiras de literatura e outros tantos eventos escolares. O espaço escolar era o melhor ambiente possível para se conviver e trocar ideias mas, infelizmente, acabou. Hoje a política educacional é formar eleitores de baixo nivel para elegerem políticos de baixíssimo nivel. É desolador. Mas o que me anima muito atualmente é ver essa tua geração reagindo, apostando na felicidade de evoluir fazendo aquilo que gosta, com espírito crítico e visão ampla. Obrigado por serem assim!
ResponderExcluirFala Vika, tudo bom? Que bom que se identificou com o texto! Não pros olhares, já aprendi que como artista, aguentar gente que não percebe o valor do trabalho ainda vai ser parte do ofício por muito tempo. Mas é saber escolher quem ouvir e quem não ouvir, nunca que se acomodar, que tudo dá certo.
ResponderExcluirAlias, teus desenhos são muito legais, não desiste não! Continua com paixão.
Obrigado eu por você dividir a opinião comigo!
Fala Jo, firmeza? Pô, queria ter estudado com esse professor Damião. Pois é, sempre me dizem que a escola realmente era uma instituição mais séria antigamente. Tenho alguns amigos inteligentes e que me entendem, e com esses eu me sinto bem de conversar, mas no geral os caras que eu realmente converso de tudo são de outros estados, como o Jopa, o Nunes, e você mesmo. A escola parece não ser mais o que era antes, então. Pois é, boto fé na minha geração ao menos, vejo muitas crianças, adolescentes, jovens com idéias muito maduras, e se a gente achar o apoio certo nas gerações anteriores, conseguimos decolar.
Obrigado nós pelo apoio, Jo!
My generation!
Vou levar esse texto para a faculdade. Tenho professores que vão amá-lo. Eu gostei muito. Siga sendo artista, idealista. Ah, eu faço o que se convencionou chamar de Artes Visuais... Abração!
ResponderExcluireu tambem me identifiquei , hoje em dia os professores so falam que a gente tem que se formar em engenharia ou medicina e nem veem o lado da gente
ResponderExcluirPedrão, eu li, concordo com cada linha e assino em baixo!
ResponderExcluirBjs do véio