sábado, 9 de abril de 2011
O Ratinho agora é comediante - Parte 2
Punk. Desenho meu, de Abril do ano passado. Tanta coisa mudou de lá pra cá...
Então. Onde paramos? Ah sim, na parte que resolvi seguir para o humor. Tudo que eu precisava para seguir tal caminho, para variar, estava sempre do meu lado. Meu pai tinha - hoje é meu, rara- um acervo gigante, com todas as Chicletes com Banana, CIRCO, Piratas do Tietê, e tudo o mais daquela fase incrível dos quadrinhos por aqui. Com as influências principais, claro, sendo Glauco, Laerte e Angeli - Meus idolos desde dos 7 anos, rara) resolve navegar pelos mares do humor. Fui fazendo as experiências. No começo, piadas sempre óbvias, com um traço solto - leia-se ruim- e cheio de hachuras meio undergrounds.
Depois, um traço mais econômico - leia-se ruim, mas limpo-, sem hachuras, com cores vivas, e com a ajuda do computador, além da aquarela.
Com o tempo, fui treinando a aquarela, o traço, e as coisas foram ficando melhores.
Uma curiosidade, é que no humor, foi estranho. Tudo aconteceu muito rápido pra mim. Muito. Resolvi criar um blog, e não demorou muito, comecei a juntar um pequeno público. A frequência era importante, acho que a quantidade superou a qualidade, e tive visitantes muito frequentes. O que era só minha família, foi virando amigos, desconhecidos, mestres. Mas teve uma época que eu não evoluia mais. Foi então que uns caras importantes apareceram.
Meu pai estava dividindo o estúdio com dois camaradas dele em sampa, o Rafa (Rafael Coutinho, autor de Cachalote) e o outro Rafa (Rafael Grampá, autor de MESMO Delivery).
A primeira vez que fui visitar ele lá no estúdio, fui apresentado a eles. Minhas influências estavam muito focadas no passado na época, cartuns antigos, e olha que a maioria dos autores desses cartuns ainda estavam na ativa.
Então, não é de se assustar que não conhecia muito o trampo do Grampá, e nem conhecia o do Coutinho.
Mas chegando lá, não demorou pra virar fã, super-fã, dos dois. Assim que subi a escada do estúdio, me deparei com alguns originais, de assustar. Era inacreditável. Numa parede só, páginas dos gêmeos, um original do Laerte, um quadro do Dahmer. E os dois mais importantes. Uma página de CACHALOTE, uma sequência na qual o playboy ia ao cinema, e um desenho do diabo, parte de uma página do MESMO delivery.
Não fazia idéia de quem era aquilo, mas na hora, achei os dois desenhos do caralho, e já fiz uma anotação mental de perguntar pro meu pai quem eram os desenhistas.
Como era a minha primeira vez lá, estava timidaço - reza a lenda que a timidez é mal de cartunista- então mal falei com os dois mestres que sentavam nas salas ao lado, o Grampá mesmo só cumprimentei na hora que estava indo embora, no fim do dia.
Mas eu já estava lá, e isso era tudo o que eu precisava. O tempo foi passando, e descobri que a página era do Coutinho, com quem comecei a bater uns papos regularmente, sobre música e afins. O cara tem uma visão foda do mundo, além de ser um quadrinista e um pintor excelente. Comecei também a conhecer o Grampá, que me ensinou muita coisa, em pouco tempo. Batemos papos sobre quadrinhos, ele me mostrava quase que regularmente umas bandas novas, e olha só, não teve uma que eu não achei foda, e ouço até hoje ( Da-lhe White Stripes, por exemplo), também chegou até a me passar alguns exercícios no meio disso tudo, que me ajudam até hoje.
Estar ali, ver os caras trabalhando, conhecer seus materiais, suas influências, suas técnicas, foi o curso de quadrinhos que eu nunca tive, sabe? É claro, eu não parei de desenhar enquanto estava lá. Álias, cacete, como eu desenhei enquanto estava lá. De semana pra semana, meu estilo ia mudando bruscamente, sempre com avaliações dos mestres ( nos quais, obviamente, meu pai também figurava, ele também continuou me ajudando como sempre, lá), e sempre experimentando tudo que tinha direito ( estou falando de técnicas de desenho e materiais, viu.), eu continuei.
Nesse período mágico, no qual conheci esses mestres que me formaram, algumas coisas aconteceram, que me fizeram ter uma vontade absurda, gigante, de me esforçar, e mandar bala.
A primeira, foi uma lição que meu pai ensinou, e demorou pra eu absorver, mas quando absorvi, tudo deu certo. Já falo mais disso.
Certo dia, eu estava lá no estúdio, desenhando uma tira, que nunca foi publicada no blog, e uma página de um personagem que eu havia criado. A página era ESSA.
Eu terminei a página pela manhã, meio inseguro dos resultados, mas enfim. Larguei em cima de uma mesa do estúdio do meu pai ( que era, antigamente, uma sala de estar da casa que eles oculpavam, então era passagem obrigatória pra cozinha, pro banheiro, etc.), e fui ler um pouco de quadrinhos.
Toca a campainha do estúdio. O Coutinho atende. Continuo lendo. Era o Laerte. Porra. Não acredito. O Laerte. Meu idolo. Até hoje, meu maior ídolo. Putaqueopariu, não acredito, não acredito. Ele tava lá, discutindo uns assuntos pessoais importantes com o Coutinho, quando saiu do quarto, sei lá por que, e passou pelo estúdio do meu pai. Enquanto isso, eu estava afogado, vermelhíssimo, na poltrona. Aproveitei, e cumprimentei O cara. Meu pai ajudou na apresentação. SHOW! Eu conheci um ídolo. Espera. O que ele tá fazendo? Putz, aquilo ali que ele tá olhando na mesa é... MINHA PÁGINA! Acho que nunca na minha vida a expressão OH MY FUCKING GOD teve um cabimento melhor. Ele tava vendo a minha página. A minha! Na hora, veio um monte de coisa na cabeça. Vergonha, a página não era boa. Alegria, ele tava avaliando. Entre outras coisas. Ele virou pra mim, que no momento devia estar mole de bobo, e perguntou:
- Isso aqui é seu?
-S-si..É.
-Bem legal, hein? - Ele disse algo parecido, não lembro bem com que palavras-
Avaliou mais um pouco, soltou um elogio, cumprimentou, foi legal, e saiu.
Eu quase chorei. Era o dia mais feliz da minha vida, ou pelo menos naquele momento, era.
Feliz, serelepe, produzi muito aquela semana. Aquele mês. AqueleS meseS.
Outra coisa. Eu descobri o píncel. Era mais um dia sossegado no estúdio, já tinha visitado o lugar vários vezes na época. Eu fiz uns desenhos com pincél, os primeiros. Experimentei, experimentei, como sempre. Nada demais pra mim, achei até meio toscos demais, larguei, e fui ler um pouco antes de voltar.
O Grampá passou lá, pra cozinha, para fazer um lanchinho, tomar café - a droga dos cartunistas-, sei lá, e viu. Saindo, de lá, me saldou - eu estava na sala do meu pai, ao lado.:
- É teu, isso aqui?
-É sim.
-Bah, bem classe ein! Teu traço melhorou uns 70% com pincél!
-Uou, valeu!
Tava feito. Seria minha nova arma. Treinei, treinei, e no mesmo dia saiu isso AQUI. Hoje, não trocaria o pincél por nada. Nas palavras do Gramps, "O pincél é o coringa dos materiais de desenho". Fato. É mesmo.
No mesmo dia, ele deu umas dicas. A principal foi, tem que variar o traço, não pode deixar muito grosso, muito fino. Ajudou muito.
Daí veio a terceira coisa, que me ajudou muito. A dica do meu pai.
Foi a seguinte:
"Filho, não se preocupa tanto em publicar - eu estava louco pra sair na MAD na época, tinha conhecido o João M. pessoalmente, me inspirou a querer publicar-. Tu é novo. O importante, agora, é produzir, conhecer, se divertir. É só parar de azucrinar sua cabeça com essa fome louca de publicação, que tudo vai acontecer, na hora certa". Pura verdade. Parei de me preocupar com aquilo. O negócio era produzir, botar no blog, curtir. E rolou. Pouco tempo depois, graças a indicação do João,as dicas do Grampá, do Rafa, do meu pai, do Jo Fevereiro, que foi uma amigão de internet, e a um esforço meu, consegui. Eu estava na Folhinha.
Me apuro mais nisso no próximo post. Álias, alguem teve coragem de ler um desses dois posts, até agora? Haha, temo o fato de estarem gigantes, e meio chatos. Enfim.
Abracitos,
continua.
Pedro
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Caralho Pedro, muito foda essa seqüencia de textos.
ResponderExcluirAbraços!
tem que falar do dia que o Grampá ficou "vendo filme" com a mulher dele
ResponderExcluirjoao
Ô, Pedrão... Não tive só saco de ler e reler esses textos todos como fiquei com a mesma cara abestalhada, que você tão bem acaba de descrever, ao trombar com a citação que fez ao meu nome. Tenho que caprichar mais a partir de agora. Abração.
ResponderExcluirValeu Calvinboy! Vê se movimenta aquele teu blog foda lá, ein, hehe
ResponderExcluirHahaha, João, esse episódio, e algumas outras coisas, bastante importantes, eu deixei pra contar, ou detalhar melhor, em forma de quadrinhos, um dia. Esse episódio está garantido, rarara, e viva os playmobils
Que isso Jo, eu que tenho que caprichar mais, pra fazer jus aos seus comentários épicos : )
Abracitos, e valeu pelos comentários pessoal!
Pedro C.
Incrível essa sua história!
ResponderExcluirChega a ser inspiradora.
Abraços
Pedrão, além de mandar muito bem nas ilustras tá escrevendo demais também. Seu papis deve estar super orgulhoso de você, eu estou.
ResponderExcluirGrande abraço do primo,
Xandê