terça-feira, 23 de agosto de 2011

A arte, a escola, a arte nas escolas.


Desenhar é o que eu mais amo. Eu não posso evitar, o desenho é minha alma gêmea. Não passamos um dia separados, não importa aonde eu esteja, não importa se eu estou usando uma caneta BIC ou um pincel Winsor e Newton número 2. Nunca importou. O que importa de fato é a paixão. Nada, tirando talvez ler, me deixa tão concentrado, tão feliz. Se eu tivesse que escolher entre viver o resto da vida sem braços e viver só mais cinco anos com o braço, escolheria os cinco anos. Não posso me imaginar fazendo outra coisa que não seja desenhar, independente da quantidade colossal de outras coisas a fazer no mundo. Não troco a minha prancheta por uma festa, uma balada, ou qualquer outra coisa do tipo. Pode parecer anti-social, e talvez até seja, mas se a vida nos dá a chance de fazer o que gostamos, por que trocar por algo que os outros gostariam que nós fizéssemos? Não que o prazer de desenhar tire meu prazer por outras coisas, como conversar, rir com meus amigos de piadas que provavelmente só nós entendemos, namorar alguém, nada tira a graça dessas coisas. Mas perto do desenho, ao menos todas as outras atividades do tipo hobbie ou profissão perdem a graça. Quando estou com dificuldades para entender algo em alguma matéria na escola, como a matemática – minha inimiga número um, com suas milhares de funções inúteis, no meio de tantas outras indispensáveis, é a maldita matéria é importante – ou a incrivelmente aprisionante matéria de desenho geométrico – para que colocar tantas regras numa coisa que deveria ser instintiva e prazerosa?-, nada além do desenho consegue me tirar um pouco desse mundo e me levar para o meu mundo interno. Viver o mundo dos meus personagens, criar seus complexos, mudar o rumo de suas vidas, deixa-los viver depois. Se quiser, pode me chamar de covarde por querer fugir um pouco desse mundo, mas é impossível agüentar tanto tempo dentro de uma realidade só, quando se pode criar outra. Cada tem seu jeito de ser feliz, ué. Por exemplo, todo dia eu pego um ônibus que poderia me deixar a 5 minutos de casa, mas desço duas paradas antes, apenas para poder caminhar 20 minutos, meia hora, até em casa. Deixar o vento bater na cara, pensar. Meus amigos não entendem. Mas não fico bravo, afinal, como eu disse, cada um tem seu jeito de descobrir as felicidades. Eu por exemplo, não consigo ser tão feliz na escola quanto desenhando, já outras pessoas dedicam sua vida aquele lugar. Quem está errado? Ninguém. A felicidade aparece em um lugar para cada um. Só consigo enxergar o sistema de ensino atual como um grande atraso para quem já tem certeza do que quer fazer, mas enquanto isso, quem ainda não se decidiu – não que sejam atrasados, com tantas possibilidades, difícil escolher quando se é bom em várias coisas como esses alunos – vê como a chance de abrir várias possibilidades. É pouquíssimo provável que um desenhista tenha que usar uma inequação de segundo grau, mas um matemático precisa mais disso do que qualquer um possa imaginar, afinal, foi por isso que nosso amigo Bhaskara criou sua fórmula a um bom tempo. A escola te atrasa em alguns sentidos, como quando te ensina matérias que provavelmente só serão pedidas uma vez na sua vida: em algum vestibular. O que na verdade pode ser classificado como hipocrisia, pois se o lema escolar é te preparar para a vida adulta, por que ter a chance de repetir de ano e prejudicar a sua maturidade com um assunto inútil dentro de uma matéria útil? Obviamente, a escola não é uma perda de tempo, nunca disse isso. No meio de algumas coisas inúteis, existem enchentes de coisas mais que úteis, principalmente nas matérias principais, Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e Inglês.  Adoraria que o número de matérias importantes fosse maior, mas parece que ninguém informou ao sistema escolar que Arte também é história, é português, é inglês, é geometria, é matemática, é informática, é filosofia, e essa matéria é desvalorizadíssima. Afinal, por que a toda poderosa escola deveria criar seres dessa raça maldita, os artistas, não? Devemos preparar as pessoas para serem grandes profissionais, como executivos, advogados, médicos. Desde quando o mundo precisa de artistas? Quem diabos é Leonardo Da Vinci? Quem é esse tal de Will Eisner?  Deixa essa criançada relaxar na aula de artes, manda eles desenharem uma coisinha bonitinha aí, ou imprimirem da Wikipédia sem nem ler antes uma pesquisa sobre o Van Gogh.  Triste, não? Mas é um fato, pelo que presenciei até hoje. Alias, aparentemente, para as escolas  ( não incluo meus professores, alguns realmente tem prazer na arte) a equação é bem simples:
Artes = Desenho
 Beatles? Quem? Dança? Hun? Artes é desenho, ué. Simples, né? Juro, eu fico chateado com a falta de importância dada a arte nas escolas, publicas e particulares. Porra, vamos estimular as crianças, os jovens, a se expressar de um jeito diferente! Muitos artistas foram responsáveis por mudanças no mundo. A arte de se expressar é importante. Que tal dar temas mais abrangentes para criação de desenhos do que “Pinte a flor” ou “Copie o quadro mais famoso do artista famoso só que com grafite em uma folha sulfite”. Ninguém procura mostrar os quadros mais desconhecidos, os mais expressivos, só os mais famosos. Ninguém dá uma aula sobre música, ninguém bota uma música dos Beatles para os jovens ouvirem enquanto desenham. Mas enfim. Nada adianta eu ficar reclamando aqui também, no final das contas. Na verdade creio eu que quase ninguém, tirando os leitores regulares e mais alguns vão ler esse texto até o fim. E olha que nem falei tudo que eu queria, haha. Mas tudo bem. Eu precisava falar isso para alguém. No caso é você, que está aí lendo.
Alias, obrigado pela sua atenção, caro leitor que leu isso até o fim. Não precisa comentar o post, nem divulgar o blog, e muito menos concordar comigo. Mas se discordar, comente, que eu gosto bastante de ouvir opiniões também.

Abraços do autor desses textos estranhos com mil reviravoltas sem sentido.

Pedro C.

sábado, 6 de agosto de 2011